Queridinha das classes A e B nas grandes cidades, a Heineken está dobrando a capacidade de produção no Brasil, segundo reportagem do jornal Valor nesta sexta-feira. A companhia está investindo 985 milhões de reais para dobrar a capacidade de produção da marca holandesa nas fábricas de Araraquara, Itu e Jacareí, em São Paulo, além de Alagoinhas, na Bahia, e Ponta Grossa, no Paraná. O investimento, recorde para a empresa no Brasil, revela uma grande ambição — e uma boa dose de despreparo da cervejaria com demanda acima do previsto no mercado brasileiro.
Na terça-feira a companhia informou avanço de dois dígitos na venda de suas marcas premium no país: Amstel, Devassa, Eisenbahn e Heineken. As marcas mais populares, por sua vez, puxadas pela Schin, recuaram dois dígitos, num resultado que surpreendeu analistas. No total, as vendas nas Américas recuaram 2,7%, enquanto globalmente a companhia anunciou avanço de 2,3%.
Apenas a marca Heineken cresceu 7,4% globalmente, com o Brasil como um dos principais destaques. Neste trimestre, o Brasil ultrapassou os Estados Unidos como o maior mercado consumidor da marca Heineken no mundo, ultrapassando, nos últimos 12 meses, Estados Unidos, França e Holanda.
O sucesso da cerveja no país levou a um gargalo na produção. A fabricação da marca Heineken tem uma peculiaridade, com tanques de fermentação diferentes dos usados nas outras marcas da companhia, o que impede que uma mesma linha seja rapidamente convertida, por exemplo, de Devassa para Heineken. Os novos investimentos devem ajudar a reduzir este problema.
Segundo EXAME, a Heineken também está enfrentando desafios para lidar com a alta demanda pela cerveja Eisenbahn. Recentemente a companhia deixou de produzir seis variedades tradicionais da cerveja fundada em Blumenau (SC): Dunkel, Strong Golden Ale, Rauchbier, Kölsch, Weizenbock e 5 anos. Ficaram apenas as linhas de maior volume: Pilsen, IPA, Weizen e Pale Ale.
Apesar de ter dezenas de marcas pelo mundo, a Heineken tem uma estratégia tradicionalmente mais focada que sua concorrente ABInBev em cada país onde atua — com sua marca principal ladeada por uma pequena variedade local. A alta complexidade da linha de produtos no Brasil era um desafio extra para a empresa, segundo EXAME apurou. Daí a decisão de focar mais nos produtos de maior volume mesmo no mercado premium.
A nova fase da Heineken no Brasil começou em 2017, quando a companhia comprou a Brasil Kirin, subsidiária brasileira da cervejaria japonesa Kirin, que havia comprado, em 2011, a Schin. A compra deu à Heineken mais capilaridade para bater de frente com a líder indiscutível do mercado nacional de cervejas, a Ambev. Com a compra da Brasil Kirin, a Heineken passou a ter cerca de 20% do mercado brasileiro de cervejas e, segundo projeção do banco Bradesco BBI, pode ganhar até cinco pontos percentuais até 2023.
Além do investimento fabril, a Heineken vem investindo em uma rede própria de distribuição, após encerrar um acordo logístico que mantinha com a Coca-Cola no Brasil. A expectativa é que a empresa dobre o número de pontos de venda até 2021, chegando a um milhão de estabelecimentos no Brasil.
Enquanto a Heineken investe para continuar ganhando terreno, a Ambev contra-ataca. A cervejaria anunciou nesta sexta-feira um lucro líquido de 2,5 bilhões de reais no terceiro trimestre, queda de 11,6% em relação ao mesmo período de 2018. O faturamento, por sua vez, cresceu 8%, para 11,9 bilhões de reais. AS ações da cervejaria estavam em queda de 6% até as 11h desta sexta-feira.
Pesaram para o resultado o ambiente macroeconômico e a concorrência acirrada. O ambiente econômico deve continuar desafiador no quarto trimestre, mas pode melhorar em 2020. A concorrência, por sua vez, não deve dar trégua.
Fonte: Exame.com